Safe spaces e o truque do politicamente correto para destruir a liberdade de expressão




Por Adelson Vidal Alves 

Não é novidade para ninguém que o identitarismo usa de truques para tentar deter o monopólio do discurso. Quando falamos de "lugar de fala", por exemplo, não estamos falando de valorização democrática da voz de quem mais sofre as injustiças do mundo. Aqui, na verdade, mora a estratégia de entregar a um grupo o direito perpétuo de ter a palavra final dos temas que passam a ser somente dele. Homens são proibidos de falar em questões de mulher. Brancos não ousam se meter em debates de racismo, pois não são negros para sentir a verdadeira dor do preconceito. No fim, é um "lugar de cale-se", para usar o termo da psicanalista Maria Rita Kehl. 

Silenciar o diferente está na moda no mundo do politicamente correto. Não falo apenas das milícias identitárias fascistas que invadem descaradamente eventos públicos para agredir pesquisadores e palestrantes que são críticos aos seus dogmas. Falo dos espaços oficiais abertos nos campis e até empresas. São os chamados safe spaces (espaços seguros), locais onde as minorias se acomodam protegidas do mundo cruel que supostamente as ameaça. Na prática, qualquer ideia, proposta ou pessoa que porventura ofereça risco ao sossego dos oprimidos deve ser removida em nome da segurança das tais vítimas. Um conservador que é crítico à pauta de sexo e gênero do identitarismo é visto como perigo à tranquilidade LGBTQIA+. Então, deve ser afastado. 

O safe space é a infantilização dos espaços de debate e convivência. É retrato de uma geração chorona que vive a se ofender por tudo, uma criançada a apelar por persistente proteção. Adultos em pura lamúria, querendo o privilégio do sossego às custas do silêncio de quem pensa diferente. Gente grande a exigir grades intelectuais para falar sozinha sem ser enfrentada. 

Bem fez a Universidade de Chicago, que através de seu reitor enviou carta a seus alunos acabando com toda essa frescura do politicamente correto. Direcionada aos estudantes do ano de 2020 nela se lia:

"Você vai descobrir que esperamos que os membros da nossa comunidade se engajem em debates rigorosos, discussões, e até mesmo desacordo. Às vezes isso pode desafiá-lo e até mesmo causar desconforto. Nosso compromisso com a liberdade acadêmica significa que nós não suportamos os chamados ‘trigger warnings’, nós não cancelamos oradores convidados porque seus temas podem revelar-se controversos, e nós não toleramos a criação de ‘espaços seguros’ intelectuais onde as pessoas podem se abrigar de ideias e perspectivas em desacordo com a sua própria”.

Em português claro, a Universidade de Chicago não aceita que o livre debate de ideias seja cerceado por conta de meninões com medo do mundo. Infelizmente, creio que ela seja exceção nesses tempos de patrulhamento e super proteção. 

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