Janja quer ser Evita, mas não chega aos pés de Ruth Cardoso



Por Adelson Vidal Alves 

Posses presidenciais na República brasileira geralmente seguem o ritual de transferência de poder,  com o presidente que está saindo passando a faixa para quem está entrando. Como no ano de 2023 o derrotado fugiu para os EUA, caberia ao presidente do Congresso Nacional formalizar a posse do vitorioso. Mas o que se viu no 1 de Janeiro foi um espetáculo identitário, coisa da primeira dama, a Janja. No lugar de Rodrigo Pacheco estavam representantes de minorias a subir a rampa do Planalto.

Janja tem tentado mostrar protagonismo no novo governo. A nomeação da cantora Margareth Menezes para a pasta da cultura tem todos os seus dedos. Negra e mulher, a nova ministra cai direitinho dentro do perfil ideológico da esposa de Lula. Mas além de palpites particulares, Janja tem atuado publicamente. Recentemente ela respondeu um site de fofoca nas redes sociais, garantindo que a isenção de tributos para empresas chinesas não afetariam o consumidor. Virou meme imediatamente. 

Janja já teve problemas com petistas, e há quem jure que ela tenha pretensões eleitorais, talvez de olho na sucessão do marido. O fato é que ela tenta aparecer, criar sua marca. Parece que quer ser a nova Evita Perón, a ex-primeira dama argentina que teve destaque no populismo peronista. Só que mesmo com tanta gente tentando a tratar como uma espécie de arquétipo feminino no poder, o fato é que ela não chega aos pés de Ruth Cardoso, essa sim obteve amplo apoio e reconhecimento por suas ações. 

A esposa de Fernando Henrique Cardoso ganhou prêmios internacionais, na Europa e nos Estados Unidos, como o que reconhece o programa Comunidade solidária. Ela materializou a tradição da primeira dama que cuida das questões sociais, sem falar de sua produção acadêmica. Foi política, intelectual, mobilizadora da assistência aos mais pobres. 

A esquerda feminista tem problemas para reconhecer as qualidades de Ruth, afinal, ela teria sido a primeira dama do governo neoliberal de FHC. Melhor Janja, a identitária que quer mostrar o empoderamento feminino, que não aceita a passividade de ser só a mulher do presidente. 

Evita foi a "mãe dos sem-camisa", Janja talvez queira ser a madrinha das minorias. Até agora, só conseguiu ser a palpiteira, longe de Evita e sem comparação com Ruth Cardoso. 





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