No futuro, gays sofrerão menos preconceito que os ateus

 


Por Adelson Vidal Alves 

Fiz uma postagem no Facebook que deixou muita gente chateada. Publiquei uma citação do filósofo e escritor Sam Harris que dizia o seguinte: "Rezar para uma pedra e rezar para deus resulta na mesma proporção de pedidos atendidos. A diferença é que a pedra existe". Diante da reação tão raivosa de alguns, me perguntei: por que as pessoas se recusam a falar naturalmente da falta de fé? Por que podemos brincar com tudo, menos com Deus?

Na verdade não são "as pessoas", mas sim algumas pessoas. Na Suécia 85% da população não acredita em Deus, na Dinamarca 80% e na Noruega 72%. Nesses países, todos de primeiro mundo, a religião tem pouca ou nenhuma influência na vida dos cidadãos. Diferente do Brasil, onde mitos e superstições participam ativamente das decisões individuais. 

Em países pobres e de desigualdades acentuadas a divindade tende a ter grande poder. Quando o Estado falha, quando as perspectivas e esperanças na sociedade são baixas, resta olhar para cima. É doloroso quando alguém tenta lhe tirar essa sua última aposta. Lembro de um filósofo que tomou todos os cuidados para não fazer que seu seguidor e amigo perdesse a fé em Deus. Ele teve a responsabilidade que gente como eu, Dawkins e Harris não tem.

Penso que muita gente não quer sequer pensar que sua vida possa não ter sentido, que não há ninguém lá em cima prestando atenção em suas dores, ou mesmo que um ser superior não recompensará os justos em um mundo vindouro. Seria perder tudo, o desabar das estruturas fundamentais que dão razão existencial para suas vidas. Melhor atacar, agredir e discriminar aqueles que espalham tais heresias. 

Os ateus são a minoria que mais sofre preconceitos. Experimente, de brincadeira, falar que você não tem fé. Verá que os outros olharão para você como se olha para um ET. Muitos se afastam, segregam, rejeitam. Sofre-se mais que outros grupos violentamente estigmatizados.

A homossexualidade foi tratada como doença por anos, e hoje é criticada como perversão moral pelos conservadores religiosos. Aos poucos as coisas mudam. Há leis que protegem os homossexuais,  políticas específicas para a comunidade LGBTQIA+, uma aceitação cada vez mais ampla da sociedade. Quantas políticas de conscientização pelo respeito aos ateus existem? Quantas vezes céticos são ofendidos e criminalizados sem que qualquer celebridade faça uma campanha exigindo respeito à liberdade de pensamento? Provocações como a minha só visam incentivar o pensamento crítico e exigir livre expressão. Mas não são assim recebidas. 

A situação de ateus e agnósticos hoje, isto é, dos que não creem ou tem dúvidas, segue semelhante aos tempos da fogueira medieval. A demonização está presente. Não ter fé pode causar exclusão, e como gays em outros tempos (na verdade ainda hoje, mas em menor número) os ateus querem é ficar no armário, temendo represálias. No futuro próximo, os descrentes sofrerão mais preconceitos que os gays. Se já não estão sofrendo.

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