Lampedusa simboliza uma das questões mais dramáticas dos nossos tempos


Por Adelson Vidal Alves 

Em Junho de 2023 completa-se 10 anos da primeira viagem apostólica do Papa Francisco. O sumo pontífice escolheu a Ilha de Lampedusa, na Itália, para poder visitar. A Ilha é símbolo de um dos grandes dramas dos nossos tempos: a migração. 

Em Lampedusa, todos os dias, grupos e mais grupos de gente desesperada, fugindo de ditaduras ou mesmo buscando uma vida melhor, chegam, nas chamadas "viagens de esperança". No entanto, a esperança muitas vezes se transforma em tragédia. Barcos em péssimas condições acabam naufragando, matando homens, mulheres e crianças. O Papa rezou uma missa de cima de uma dessas embarcações e fez uma fala dura:

"Senti o dever de vir aqui hoje para rezar, para cumprir um gesto de solidariedade, mas também para despertar as nossas consciências a fim de que não se repita o que aconteceu. Que não se repita, por favor.” 

Em Lampedusa, a Guarda Costeira trabalha incansavelmente na missão de resgatar e salvar vidas de refugiados. Os lampedusanos, ainda, ofertam o máximo de solidariedade aos recém chegados, sonhadores que anseiam uma nova vida no desenvolvido mundo ocidental, bem diferente do horror de onde geralmente vieram. A migração, contudo, não pode ser tratada apenas nos termos da boa ou má vontade das nações do Ocidente. O tema é complexo. 

A Europa se desenvolveu em meio à uma cultura de valorização da civilidade, da ciência, da razão e do Estado democrático de direito. Imigrantes acolhidos pelo continente, ao invés de se integrar à cultura de sua nova casa, querem viver a vida de onde vieram. O conflito cultural é inevitável. 

Com as bênçãos do multiculturalismo, as novas tribos que chegam ao continente montam uma nova forma de convivência civilizacional onde se instalam. Inevitável não pensar nas gangues paquistanesas estuprando mulheres brancas simplesmente por elas serem brancas. Muçulmanos degolam, células terroristas são infiltradas, a homofobia tribal e a submissão das mulheres são praticadas à luz do dia, sem que autoridades possam tratar do tema como ele deve ser tratado, por temerem serem chamadas de racistas ou xenófobas. 

Mas a globalização é inevitável, dizem alguns. A imigração faria parte de um mundo sem barreiras. E é verdade. De fato, é cada vez mais certo que o velho mundo dos Estados nações de porteira fechada está morrendo. No lugar, nasce uma aldeia global, marcada pela vontade de estruturarmos uma nova ordem planetária focada na identidade humana comum. Só que não podemos ignorar a desigualdade social, cultural e regional. O que fazer?

Enquanto existirem regiões prósperas e civilizadas e outras miseráveis, a globalização será sempre a tentativa de povos pobres querendo desfrutar das benesses econômicas do mundo rico. Penso que o melhor caminho seria a construção de um mundo menos desigual, e para isso somente com instituições certas espalhadas por todo o planeta que poderemos falar em um amplo desenvolvimento mundial. 

As mudanças culturais irão acontecer naturalmente em constante produção dialética, até que possamos remover de todos os países as marcas da bárbarie, da irracionalidade e do tribalismo que com tanta força seguem escravizando vários povos. 

Lampedusa testemunha um mundo de miseráveis sofredores indo atrás de melhor sorte nos lugares onde o mais desenvolvido da nossa espécie chegou. É o símbolo de um drama, que precisa de um olhar sério e amplo, longe dos dogmas multiculturalistas ou nacionalistas. Uma tarefa difícil que temos pela frente. 

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