Etarismo é um preconceito especialmente estúpido

 


Por Adelson Vidal Alves 

A ideia de que negros são inferiores aos brancos já teve tratamento científico. No século XIX, médicos e antropólogos pensavam suas ciências a partir da certeza de que a cor da pele marcava níveis diferentes de inteligência. Hoje tal pensamento é inaceitável, visto que o acúmulo de estudos genéticos nos dão a certeza que raça é coisa de bicho, não de gente. As diferenças se dão entre indivíduos, não entre grupos raciais determinados. Ser racista hoje é mais que imoral, é burrice. 

Preconceitos em sua maioria são condenáveis, mas precisam ser entendidos. Ás vezes é possível ver lógica. No filme "Distrito 9" é abordada a discriminação humana contra alienígenas. Mas vamos combinar aqui: quem de vocês convidaria um ET bem feioso para um cafezinho? Enxergar alguma vantagem no ato preconceituoso também é possível. Discriminar estrangeiros é uma forma de muita gente proteger seus privilégios. Resumindo: o preconceito pode ter raízes compreensíveis, racionais mesmo. Mas às vezes é estupidez pura. 

No último dia 11, em Bauru (SP), uma universitária de 44 anos foi ridicularizada por colegas devido sua idade. No vídeo gravado pelas jovens imbecis, uma delas diz: "Gente, quiz do dia: como 'desmatricula' um colega de sala?". Depois é a vez de outra idiota dizer: "Mano, ela tem 40 anos já. Era para estar aposentada". Por que usei termos tão duros com essas mocinhas preconceituosas? Por que além de ser uma maldade que exclui, tal preconceito é o cúmulo da burrice. 

Pensem comigo. Os racistas são gente da pior espécie, mas seu preconceito funciona em cima da certeza que sua condição de suposta superioridade é permanente. Brancos que cometem racismo agem certos que jamais serão negros. Machistas atacam mulheres sabendo que morrerão homens. E quanto a jovens que discriminam mais velhos? Não sabem os tontos que um dia irão envelhecer? Eles estão sendo preconceituosos contra seu próprio futuro. O etarismo, isto é, discriminar gente mais velha, é um ato particular de estupidez. 

Diferenças entre gerações existem, claro. Há ambientes culturais que se ajustam com a idade de seus frequentadores. Difícil ver alguém de 50 anos rebolando até o chão no show da MC Pipokinha. Jovens de 14 ou 15 anos serão raros em um cruzeiro com show do Roberto Carlos. Ok. O problema é quando escolhas livres viram motivo de deboche e exclusão. Se eu quiser rebolar ao som.do pancadão tenho direito, se uma senhora de 60 anos quer entrar para o curso de Direito ela merece incentivo, não piadinhas ridículas. 

As universitárias que cometeram etarismo atacaram uma pessoa de 44 anos, de meia idade. Imagine se fosse alguém de 60 ou 70 anos. Em outros tempos pessoas mais velhas eram referenciadas por sua sabedoria existencial. Hoje, precisam se defender do deboche juvenil. Depois me perguntam porque sou tão pessimista com o futuro. 


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