Para quem vai a torcida dos oprimidos?


Por Adelson Vidal Alves 

Intitulada "Quem conquistou a Copa pela França" a charge do jordaniano Mahmoud Rifai ficou famosa em 2018. No desenho, a bandeira francesa rouba a taça do mundial das mãos de refugiados negros. A interpretação não exige muito esforço mental. Para o cartunista, não foram franceses que ganharam o torneio, mas estrangeiros de uma raça residindo no país  europeu, apesar de apenas dois jogadores terem nascido fora da França. Nada disso interessa aos grupos de esquerda que ajudaram a espalhar a charge. O importante sempre foi gravar nas seleções europeias a marca da opressão. 

A França jogará a semifinal da Copa de 2022 contra o Marrocos. A seleção africana é a queridinha do mundial, já que representaria o oprimido continente africano contra os malvados colonialistas. O futebol aqui é atravessado pelos traumas do passado, em distorções e passagens seletivas que ofuscam a complexidade histórica. Aos imperialistas da Europa todo o ódio daqueles que se solidarizam com suas vítimas. 

O Marrocos já chega nas finais ostentando a "recuperação da península ibérica", em referência de internautas às vitórias da seleção marroquina contra Portugal e Espanha. As derrotadas no futebol foram feitas símbolo esportivo da retomada muçulmana da península conquistada por cristãos no século Xlll.

O Marrocos heróico não existe. Pelo contrário, o exército marroquino tortura crianças de 12 anos e recentemente invadiu o Saara Ocidental. Este país foi entregue pela Espanha ao Marrocos e a Mauritânia em 1975, contrariando decisão judicial internacional. Desde então há conflitos intensos entre a Frente Polisário e o Marrocos, que comete frequentes violações criminosas como prisões arbitrárias e sequestro. Mas no jogo contra a França será ele a vítima. 

A esquerda identitária promove a narrativa vitimista selecionando fatos e acontecimentos, quando não está distorcendo. Observem os militantes LGBTQIA+, que denunciam o Brasil como o pior país para gays e transexuais viverem. Devem ter esquecido que 38 dos 54 países africanos tem leis contra a comunidade homoafetiva, e também da Rússia, onde a homofobia é regra legal. O demônio sempre tem que ser o Ocidente. Quantas vezes você viu um racialista falar do genocídio de tutsis por hutus em Ruanda? Os tutsis eram chamados de baratas, mas aqui não há racismo, não é mesmo?

A ideia é sempre criar um opressor branco europeu perpétuo, com as minorias no lugar de vítimas virtuosas. Até no futebol essa lógica deve funcionar, com o continente africano ocupando o lugar do oprimido e o europeu o do eterno colonizaor. O lado bom da história, então, está com o Marrocos. Os oprimidos já tem para quem torcer.

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