Como entender tamanha força do antissemitismo na história?


Por Adelson Vidal Alves 

Kanye West, rapper americano, escreveu em seu Twitter que "ama nazistas". Negro, ele é uma figura bastante conhecida por expressar seu antissemitismo. O presidente dos EUA se pronunciou condenando a ideologia de Hitler e o preconceito contra os judeus. Preconceito, aliás, que cresce nas redes sociais, mesmo depois de tanta informação sobre os horrores cometidos na segunda guerra mundial. 

Apesar do líder alemão ser o mais conhecido entre os carrascos do judaísmo, ele não é o único que expôs publicamente seu ódio ao povo semita. Martinho Lutero, principal nome da reforma protestante do século XVI, escreveu em 1543 o livro Sobre o judaísmo e suas mentiras, com passagens abomináveis, onde se pode ler que os judeus "são filhos do demônio",  "pequenos demônios destinados ao inferno.” Ele vai além, e incentiva a violência, clamando ao povo que queime as sinagogas. 

No livro Mein Kampf de Hitler, obra que expõe o tenebroso racismo do chefe nazista, apenas um americano é citado em suas linhas: o empresário Henry Ford. É dele a autoria de O judeu internacional: o primeiro problema do mundo de significativa influência no movimento nazista. Ford chegou a receber condecoração por conta de seu livro antissemita. 

A aversão ao judaismo encontrou até mesmo os revolucionários. O socialista utópico Charles Fourier, que sonhou com pequenas comunidades igualitárias, tratou os judeus como "parasitas, mercadores e usurários". Karl Marx, ele mesmo um judeu, escreveu um livro intitulado Sobre a questão judaica, onde expôs estereótipos racistas contra seu próprio povo. "Qual é o culto secular do Judeu? O regateio. Qual é o seu deus secular? O dinheiro. Pois bem! A emancipação do regateio e do dinheiro, do judaísmo prático e real, será a autoemancipação do nosso tempo", escreveu o fundador do socialismo científico. 

Liberais da tradição iluminista também recorreram a hostilidades antissemitas. Voltaire em seu Dicionário Filosófico de 1756 tratou os judeus como "mestres que detestamos" e o Barão de Montesquieu em o Espírito das Leis desqualifica a fé judaica como "A religião da ignorância". Para ficar no mundo da filosofia poderíamos ainda citar Martin Heidegger, mas esse era um declarado apoiador do nacional-socialismo, integrante do Partido nazista. 

Na história, a perseguição aos judeus é parte significativa de muitos acontecimentos, desde os mitos bíblicos, o Império Romano, a Idade média e, é claro, o terrível holocausto. Por que um povo seria tão perseguido? Melhor: por que segue sofrendo tanta discriminação? Há alguma coisa capaz de explicar tal fenômeno? 

Por trás dos ataques antissemitas sempre veio junto caricaturas de um povo que se resumiria à usura, egoísmo e o amor ao dinheiro. A figura do judeu avarento atravessou a história, e instigou imaginações de uma conspiração judaica de dominação do mundo, como a expressa no Protocolo dos sábios de Sião, documento apócrifo onde é denunciada uma suposta trama planetária de dominação judaica. Tanta farsa e mentira se alinhou a várias formas de ódio, alimentadas por ressentimento e delírio. Hitler, por exemplo, culpou os judeus pela derrota da Alemanha na primeira Guerra mundial, e atribuía aos mesmos a culpa por vários problemas alemães. Os nazistas levaram sua raiva até suas propostas de uma "Solução final", a princípio, uma deportação dos judeus até a Ilha de Madagascar, (ideia de Alfred Rosenberg, ideólogo do nacional-socialismo) chegando ao ideal de extermínio físico.

Além dos estereótipos, pesa contra os judeus um significativo acontecimento histórico: a construção do Estado de Israel em 1948. Depois do holocausto que matou mais de 6 milhões de judeus na Segunda Grande Guerra, o mundo se sensibilizou para a construção de uma pátria judaica, a exemplo do que defendia o sionismo, que queria um Estado judeu na Palestina. O problema é que a comunidade internacional também prometeu um país soberano aos palestinos, que não recebeu atenção semelhante. Desde então o conflito árabe-israelense tem feito numerosas vítimas numa guerra interminável, a maioria delas palestinas. A partir daqui, muitos confundem a política sionista do Estado de Israel com o povo judeu. Ao tomar lado dos mais fracos, há quem distribua sua indignação contra toda a comunidade judaica. 

Do judaísmo saiu Jesus  e o cristianismo, saiu Einstein e Freud e a única democracia do Oriente médio. A cultura de cooperação e organização deu poder a vários judeus no mundo todo, dirigentes e influentes em variados setores da economia e da comunicação. Nada disso é crime, é apenas fruto de dedicação coletiva e espírito comunitário. No entanto, provoca inveja e ressentimento, fazendo com que muitos, assim como Hitler, optem por buscar culpados para os seus fracassos e frustrações. Assim é alimentado o antissemitismo.





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