Antonio Risério reúne ensaios em um livro extremamente necessário
Por Adelson Vidal Alves
No dia 15 de Janeiro a Folha de São Paulo publicou artigo do antropólogo Antonio Risério, onde se discutia o racismo de negros contra brancos. O texto foi recebido com revolta no meio identitário, que respondeu com alta violência e agressividade. Pipocaram artigos críticos ao autor em sites, blogs e, principalmente, na própria Folha, onde chegou a ser orquestrado um tribunal pela censura. O jornal não deu resposta para Riserio, alegando que o assunto estava encerrado, enquanto abria suas páginas para a cafajestagem do identitarismo.
O identitarismo é um movimento político- ideológico que busca reinterpretar o ser social a partir do corte de raça, orientação sexual e gênero. Sua influência se estende pelas universidades, a mídia e por toda a sociedade, onde a fragmentação do individuo e sua sistematização teórica estão na moda. O pensamento identitário tem abrigo nas esquerdas e também na direita, mas se acomoda melhor entre as primeiras, onde rapidamente vem tomando lugar do marxismo, inclusive dentro de partidos marxistas.
Contra a força deste grupo surge um livro necessário e fundamental para nossos tempos. Em "A crise da politica identitária" Antonio Risério reuniu um time plural de intelectuais que por vários ângulos destroça a farsa identitária, apresentando em argumentos irrefutáveis que o identitarismo mais que uma movimentação ideológica dos novos tempos é uma mobilização autoritária e nefasta para o sucesso da democracia. A reunião de autores tão diferentes demonstra que é possível resistir a esse trágico avanço identitarista passando por vários caminhos, do conservadorismo liberal até o marxismo.
Pela esquerda, o livro traz artigos na imprensa de César Benjamin, que foi candidato a vice-presidente em uma chapa do PSOL. Em um dos textos, de título " Racismo não!", Benjamin se levanta contra as políticas de cotas raciais atacando o mais mentiroso e confuso argumento a favor das políticas afirmativas: a estatística. Em tom didático e certeiro o autor mostra que a média de renda brasileira, que supostamente favoreceria os brancos, só se sustenta porque os dados são construídos puxando o rendimento médio dos brancos para cima, já que a minoria mais rica desse país é branca. O apelo do texto é por um olhar geral sobre todos os grupos excluídos, e como não poderia ser, vindo de quem vem, a proposta central é que o olhar analítico principal deve se dar pela compreensão do capitalismo brasileiro.
Pela direita, Bruna Frascolla e Flávio Gordon fazem uma ampla discussão que se inicia com o desmonte do conceito de racismo estrutural em Silvio de Almeida. Este e os adeptos desta visão entendem que o racismo brasileiro se assenta em estruturas de poder que impediriam que o "negro oprimido" cometa racismo contra o "branco opressor". Os autores ainda demonstram a cumplicidade da mídia e outros setores com ideais radicais de ódio promovidas por negros, protegendo tais terroristas tendo como desculpa o vitimismo racial, traduzido na fórmula maniqueísta de negros passivos bonzinhos e brancos malvadões.
Em "Um demônio chamado Ocidente", o organizador Antonio Risério demonstra que o ódio multiculturalista se direciona contra a cultura ocidental. Parece que o Ocidente está condenado a pagar perpetuamente pelos seus erros, enquanto outras culturas bem mais bárbaras que os feitos perversos da Europa são absolvidas e ignoradas, como uma espécie de indenização eterna pela opressão do colonialismo europeu. No entanto, como lembra Riserio, ninguém pensa e escreve mais sobre seus pecados que o Ocidente, enquanto o resto se silencia em cima de um passado e presente altamente cruéis. Vale lembrar práticas de canibalismo, desrespeito aos direitos humanos e homofobia que estão amplamente presentes na África negra.
A obra ainda conta com a colaboração de pesquisadores e pensadores reconhecidos como Demétrio Magnoli e Joel Pinheiro da Fonseca. Trata-se de um trabalho de extrema necessidade para o nosso tempo. Uma resposta à dominação identitária no mundo acadêmico e jornalístico. É o esforço valoroso de quem não aceita a imposição de valores e ideias hostis à democracia.
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